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Mostrando postagens de abril, 2017

Infinitos.

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artwork by Sivan Karim Quando criança, me peguei várias vezes encarando minha imagem no espelho e questionando sobre meu corpo. Não que eu desgostasse algo em mim, crianças, normalmente, desconhecem o mau hábito de julgar nossa própria aparência. Na verdade, eu me perguntava como aquela imensidão de pensamentos desordenados, ideias meticulosas, histórias incríveis e universos fantásticos podiam estar limitados naquele pequeno reflexo de um corpo moreno. Apenas não tinha como caber toda essa imensidão. "Isso não sou eu" lembro de ter pensado várias vezes e repito, não estou focando no sentido estético. Também tinha um tique que me ajudava a confirmar essa tese. Quando eu me empolgava muito, mexia as mãos involuntariamente, e, para mim, aquilo era a melhor forma de demonstrar que aquele pequeno-grande universo que me representava não tinha como caber naquele corpo, ele se esvaía pelas extremidades dos dedos em uma voltagem ilegível, era bom pra mim. Mas, apare

Ideia.

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arte por Mar de Lio A ideia do que é o amor sempre patrulhou a minha mente. Algumas pessoas a tratam como uma pessoa especial, uma memória dolorosa guardada no baú de nossas mentes, um acidente inevitável com direito à fratura exposta e por aí vai. Fui perguntar à bisa Maria o que era o amor de verdade e ela me disse isso: "Andorinha, o amô nunca vai ser gente como a gente, ele é o respeito que tem no teu olhá e o carim que tu carrega no coração. Ele também é aquele bolo de emaranhado da tua mente e aquela dor de arrebentar o quengo. Ele vai te acompanhá em todos os teus desabrochares, é a zuada das risadas dos teus amigos e a luiz de todas as coisas que tu se importa. Num se prenda na ideia do amô ser gente como a gente. Essa é a única forma que machuca de pouquim em pouquim nossa alma."

Maré.

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arte por Adolfo Serra na minha mocidade, gostei de um menino de olhos opacos. era gente boa, bem quietinho, bom de papo, bem ameno. mas tínhamos nossas disparidades. se gritava, me mandava calar, se brincava, dizia que era coisa de moleque, se bagunçava, fingia que não via, se me extrovertia, falava que não era hora pra ser assim. acho que o relógio dele estava quebrado porque hora nunca era. com o tempo fui deixando pra lá, até que um dia ele começou a namorar. a moça era gente boa, bem quietinha, boa de papo, bem amena. fiquei algumas noites imaginando se os parafusos soltos eram os meus, até que percebi que o problema estava nos parafusos alinhados que não eram meus. tem gente que gosta de ser Lagoa mas eu era mais. bem mais. eu era Mar.

Morada.

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Casa a gente se cria, se encontra dentro de gente. É sentir conforto sem edredom, risada sem chaplin, mas com muvuca tipo política brasileira. Mas casa é casa, às vezes bagunçada, mas nunca esvaziada. Se a muvuca destruir teto e parede, há de lembrar que tem estrela no céu, brisa em vento e cacos no chão. Cacos para reconstruir a casa dentro de gente, de quinquilharia em quiquilharia e com decoração mais bonita, porque nela mora gente pra cuidar, gente pra amar. Casa a gente se cria dentro de gente e com metro quadrado que se caiba em um abraço, daqueles que dói porque acaba, e não a pilha do relógio Casa a gente carrega pra todo lugar, de las vegas às cegas, de japão à furacão. Casa se tem viola, birita, vitrola, visita. Visita sem mala pra partir. Visita que vira gente que mora dentro da gente. Casa se grita. Muito. Faz Galvão parecer mosquito pentelho. Casa se grita para o mundo dentro e fora da gente, dentro e fora de roda de gente, e apenas dentro de amor, apena