Covarde.


arte por Emilio Villalba Art


 Uma vez meu pai me disse que falar não encarando nos olhos da outra pessoa é covarde. uma outra vez um professor me disse que os olhos são janelas para a alma.

Eu não costumo falar com gente olhando fixamente nos olhos, pra mim não é fácil ter que mergulhar nos açudes turvos e lagos claros que são os olhos das outras pessoas.

Queria perguntar pro meu pai se é fácil pra ele encarar as sobrancelhas franzinas junto à mágoa no olhar de um amigo por causa de um vacilo teu. pergunto se  tem coragem de enfrentar o golpe que é encarar o olhar decepcionado de tua mãe por não ter passado no concurso que tanto queria. De novo. Se consegue lidar com o olhar de um ente querido que está resistindo contra um furacão interno que você não pode salvá-lo.

O que tô querendo dizer é que é muito difícil  adentrar em um universo diferente do meu que eu nunca conhecerei 100%, que sempre estará passando por metamorfoses nas quais não participarei nem de um décimo. Isso tudo em apenas questões de segundos encarando duas esferas aquosas finitas, que escondem toda a imensidão do que é ser um ser humano.

A verdade é que nunca é fácil viver em uma atmosfera que é diferente da sua pois acaba gerando choques que podem nos beneficiar e nos prejudicar em intensidades diferentes. Será que depois de tudo isso que falei é tão covarde assim hesitar ao espiar as janelas dos olhos das pessoas? Tentar manter meu universo o mais estável possível? Já basta a vida que raspa a nossa pele de dentro pra fora, é tão abominável às vezes encarar o céu ou o chão pra me resguardar pelo menos um pouco?

Mas eu sei que nunca teria essa conversa com meu pai, pois é muito foda encarar o olhar confuso de um ser que não consegue compreender a intensidade que carrego dentro de mim. Porque o universo de todo o mundo é diferente.

Talvez eu seja covarde.

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